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“A música no centro”: Nathalia Santana fala sobre a 2ª edição do Festival Ponto de Ebulição

  • Foto do escritor: Pinote Produções
    Pinote Produções
  • 4 de set.
  • 4 min de leitura
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O Festival Ponto de Ebulição chega à sua segunda edição em setembro de 2025, reafirmando sua proposta de colocar a música no centro da experiência coletiva. Em um contexto de escassez de recursos e desafios para o setor cultural, o festival insiste em existir — e mais do que isso, insiste em criar um espaço de encontro, de atenção plena e de celebração. Conversamos com a idealizadora e diretora do projeto, Nathalia Santana, sobre origens, curadoria, impacto e futuro.


O ponto de partida


Se o Ponto de Ebulição nasceu em 2024, em que momento você percebeu que era necessário criar um festival de música com esse conceito?


Nathalia: Nos últimos anos, percebi que muitos festivais de música se transformaram em grandes vitrines de ativação de marcas. A música, que deveria ser o motivo central, foi sendo empurrada para o segundo plano. É tanto ruído, tanta informação, que a escuta se dilui. Quis propor outra lógica: um festival em que a música fosse de fato o centro. A escolha de realizá-lo dentro de um teatro responde a essa intenção. O Teatro Riachuelo já nos orienta para um estado de atenção plena, cria um código de conduta quase tácito, o olhar se volta ao palco, e isso nos coloca em outra relação com a arte.


Música como centro e a força da curadoria


O festival se define por colocar a música no centro, não como pano de fundo. O que isso significa na prática?


Nathalia: Significa eliminar as distrações. Não precisamos de mais dispersão; precisamos de experiências que conduzam a atenção. A curadoria é a entrega mais importante do Ponto. Este ano, desenhamos uma travessia sonora pelo jazz, pelo samba e pela house, gêneros nascidos em comunidades negras e que impactaram a cultura mundial de forma profunda. São estilos que ultrapassam o campo musical: carregam dimensões sociais, políticas, afetivas. Para além disso, mesmo quando não nasceram no Brasil, como o jazz ou a house, já se tornaram parte da nossa assinatura. Aqui em Natal, temos grupos que sustentam essa cena com muita força. Colocar esses gêneros em diálogo é, para nós, uma forma de reafirmar o valor da música preta e suas múltiplas ressonâncias.


Mulheres no palco e nos bastidores


O palco e os bastidores são ocupados majoritariamente por mulheres. Que mensagem essa escolha transmite?


Nathalia: Eu sou mulher, filha, tia e sobrinha de outras mulheres, e venho de uma família onde as mulheres ocupam lugares de protagonismo. Não teria como desenvolver um projeto cultural sem que essa fosse uma prioridade. O Ponto é pensado com mulheres no palco, mulheres na produção, e até mesmo fornecedores que são empresas lideradas por mulheres. Nosso público, majoritariamente feminino, também se vê refletido nessa escolha. É uma disputa por espaço, visibilidade e protagonismo que não podemos deixar de travar. É parte de quem eu sou e do que a Pinote é.


Impacto para a cidade


Muito se fala sobre o impacto de festiva-

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is na economia criativa. Qual é o impacto mais significativo do Ponto de Ebulição para Natal?


Nathalia: O impacto simbólico. O Ponto ainda é recente, mas insiste em existir mesmo em um cenário de escassez. Só isso já é potente. É dizer: queremos continuar, temos algo a dizer, e vamos fazer. O impacto econômico é inegável, mas o mais importante agora é afirmar um espaço que existe com propósito, conceito e visão clara. Para mim, isso é fundamental: construir um festival que inspire pela maneira como é pensado e executado, mesmo em condições adversas.


Persistência em tempos difíceis


Mesmo diante da redução de recursos e da precariedade do setor cultural, o que te move a insistir nesse projeto?


Nathalia: É um propósito maior. Eu acredito na arte como ferramenta de sensibilização civilizatória. Sem ela, caminhamos para uma humanidade fria, desconectada. Em tempos de inteligência artificial, ultraconexão e distanciamento, precisamos mais do que nunca de espaços de encontro presencial, de olho no olho, de partilha. A arte é quem nos garante isso. Meu trabalho é contribuir para que não percamos essa condição humana das mais bonitas e necessárias.


Formação e comunidade


Além dos shows, o festival traz o Ponto de Aquecimento, ciclo de conversas pré-evento. Qual a importância disso?


Nathalia: É um compromisso nosso. A Pinote acredita que todo projeto cultural deve, na medida do possível, contribuir para a formação da cena. O Ponto de Aquecimento promove essa troca de forma livre, acessível e prática. São encontros que estimulam produtores, artistas e curiosos a discutirem carreira, produção, sustentabilidade. É sobre construir coletivamente e enriquecer a comunidade cultural local.


O futuro possível


E quanto ao futuro do festival? O que você projeta para os próximos anos?


Nathalia: Falar de futuro é difícil para uma pessoa ansiosa (risos). Tento focar edição por edição, porque cada uma parece um recomeço. Mas desejo que o festival cresça, que impacte não só cultural e simbolicamente, mas também economicamente a cidade. E sonho que possamos expandir, dialogando com artistas de outras regiões e até da América Latina. O Ponto nasceu com essa ambição ibero-americana, mas ainda não conseguimos realizar. É uma meta para o futuro: ampliar o escopo sem perder a essência.




Serviço


Festival Ponto de Ebulição – 2ª edição

Teatro Riachuelo – Natal/RN

27 de setembro de 2025 (sábado)

18h às 23h

Entrada gratuita (ingressos via plataforma Uhuu)

Doação voluntária de itens de higiene para mulheres em situação de rua

Acompanhe no Instagram: @pontodebulicao


*Fotos: Cynthia Campos

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