Por que um festival de música importa?
- Pinote Produções

- 3 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de set.
Reflexões a partir do Ponto de Ebulição, que chega à sua 2ª edição em Natal

Em tempos de atenção fragmentada, precarização de carreiras e constantes cortes de recursos no setor cultural, a pergunta parece inevitável: por que insistir em realizar um festival de música? Por que dedicar energia, recursos e minúcia para erguer, em um único dia, uma programação que poderia facilmente se perder na saturação de estímulos que disputam o tempo e o olhar do público?
A resposta não está apenas na celebração sonora, mas no gesto civilizatório que se inscreve quando se propõe um espaço como o Ponto de Ebulição. O festival, idealizado e conduzido pela Pinote Produções, retorna em 2025 com sua segunda edição, reafirmando uma crença antiga e ao mesmo tempo atualíssima: a música, quando colocada no centro, não é detalhe. É motor de encontros, catalisador de comunidades, matéria-prima de pertencimento.
Música como convocação coletiva
Um festival é sempre mais do que um palco. É uma plataforma de sentidos, um convite para que corpos, vozes e escutas se reúnam em torno de algo que transcende o entretenimento. No caso do Ponto de Ebulição, essa convocação se traduz em uma curadoria que percorre três territórios da musicalidade negra: o jazz, o samba e a house music.
Não se trata apenas de apresentar estilos ou gêneros. Trata-se de conectar tradições e invenções, de criar pontes entre heranças coletivas e reinterpretações autorais. O jazz abre o caminho com sua improvisação criativa; o samba sustenta a roda, o encontro, o corpo em cadência; e a house music transforma o espaço em pista de liberdade e comunhão. Em todos os casos, a música deixa de ser pano de fundo e se torna protagonista de um rito contemporâneo.
Resistir é insistir
Promover um festival no atual contexto, é também um gesto de resistência. A cidade de Natal (RN) convive historicamente com a escassez de recursos estruturais para a cultura. Projetos sobrevivem à custa de editais pontuais, renúncias fiscais instáveis e a resiliência de artistas e produtores que insistem em criar, mesmo diante de cenários adversos.
É nesse ambiente que o Ponto de Ebulição insiste em existir. E sua relevância está justamente em não recuar. Ao contrário: em expandir. A segunda edição não apenas confirma a viabilidade da proposta, como reforça um modo de fazer que alia rigor estético e cuidado organizacional, mas também uma visão de futuro para a cena cultural potiguar.
Um festival de mulheres
Há outro gesto simbólico potente nesta edição: o protagonismo das mulheres, tanto no palco quanto nos bastidores. As atrações que compõem a noite — Sâmela Ramos, Will Barros, Analuh Soares, Edja Alvess, Taj Ma House e Cida Lobo — não apenas ocupam o espaço do Teatro Riachuelo, como o ressignificam. Mulheres, com suas trajetórias próprias e suas vozes singulares, recriam gêneros consagrados, imprimindo assinatura e contemporaneidade.
Nos bastidores, a equipe majoritariamente feminina assegura que cada detalhe — da produção artística à recepção, da comunicação à direção executiva — seja também uma afirmação de equidade de gênero. Um festival que não apenas fala de música, mas que pratica a transformação que deseja ver.
Importa porque amplia
Por tudo isso, um festival de música importa. Porque amplia horizontes. Porque ensina que a arte não é luxo, mas necessidade. Porque mobiliza públicos diversos, dá palco a vozes locais, conecta tradições e projeta futuros.
O Ponto de Ebulição, ao ocupar o Teatro Riachuelo com entrada gratuita, também reconfigura imaginários sobre quem pode estar em um espaço como aquele — artistas e público. Democratiza um acesso que, em geral, é restrito a quem pode pagar, abrindo cortinas para que todos possam estar onde tantas vezes não puderam.
Em sua segunda edição, o festival reafirma sua essência: música em tudo. E isso, por si só, já é motivo suficiente para entendermos por que ele importa.
Serviço
Festival Ponto de Ebulição – 2ª edição
Teatro Riachuelo – Natal/RN
27 de setembro de 2025 (sábado)
18h às 23h
Entrada gratuita (ingressos via plataforma Uhuu)
Doação voluntária de itens de higiene para mulheres em situação de rua
Acompanhe no Instagram: @pontodebulicao
*Foto: Cynthia Campos






Esta sendo um divisor de águas para meu início de carreira! Vida longa ao ponto de ebulição! ❤️❤️❤️